domingo, 25 de novembro de 2012
AULA DE LEITURA
A leitura é muito mais
do que decifrar palavras.
Quem quiser parar pra ver
pode até se surpreender;
vai ler nas folhas do chão,
se é outono ou se é verão;
nas ondas soltas do mar,
se é hora de navegar;
e no jeito da pessoa,
se trabalha ou se é à-toa;
na cara do lutador,
quando está sentindo dor;
vai ler na casa de alguém,
o gosto que o dono tem;
e no pelo do cachorro,
se é melhor gritar socorro;
e na cinza da fumaça,
o tamanho da desgraça;
e no tom que sopra o vento,
se corre o barco ou vai lento;
e também na cor da fruta,
e no cheiro da comida;
e no ronco do motor,
e nos dentes do cavalo;
e na pele da pessoa,
e no brilho do sorriso;
vai ler nas nuvens do céu,
vai ler na palma da mão;
vai ler até nas estrela,
e no som do coração.
Uma arte que dá medo
é a de ler um olhar,
pois os olhos têm segredos
difíceis de decifrar.
Ricardo de Azevedo,
do livro "DEzenove poemas desengonçados.
São Paulo, Ática, 1998
do que decifrar palavras.
Quem quiser parar pra ver
pode até se surpreender;
vai ler nas folhas do chão,
se é outono ou se é verão;
nas ondas soltas do mar,
se é hora de navegar;
e no jeito da pessoa,
se trabalha ou se é à-toa;
na cara do lutador,
quando está sentindo dor;
vai ler na casa de alguém,
o gosto que o dono tem;
e no pelo do cachorro,
se é melhor gritar socorro;
e na cinza da fumaça,
o tamanho da desgraça;
e no tom que sopra o vento,
se corre o barco ou vai lento;
e também na cor da fruta,
e no cheiro da comida;
e no ronco do motor,
e nos dentes do cavalo;
e na pele da pessoa,
e no brilho do sorriso;
vai ler nas nuvens do céu,
vai ler na palma da mão;
vai ler até nas estrela,
e no som do coração.
Uma arte que dá medo
é a de ler um olhar,
pois os olhos têm segredos
difíceis de decifrar.
Ricardo de Azevedo,
do livro "DEzenove poemas desengonçados.
São Paulo, Ática, 1998
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